Alice já estava cansada de ficar sentada no banco sem nada
para fazer. Foi
quando, de repente, um Coelho Branco de olhos cor-de-rosa passou
correndo perto dela.
Não havia nada de tão incrível nisso fora o fato do Coelho Branco repetir continuamente para si mesmo:
— Ai, rapaz! Ai, rapaz! Vou me atrasar. Alice se alvoroçou mesmo foi quando o Coelho Branco sacou um relógio
do bolso de seu colete, checou as horas e saiu apressado. Ela se deu
conta de que nunca tinha visto um coelho com um relógio no bolso
do colete. Ardendo de curiosidade, correu atrás dele a tempo de vê-lo se emburacar toca adentro no pé de uma cerca.
No instante seguinte, era Alice quem se entocava ali. Decidiu
perseguir o Coelho Branco sem refletir sobre como sairia daquele
buraco.
A toca tinha um trecho reto semelhante a um túnel. Depois,
inclinava-se bruscamente para baixo, tão bruscamente que Alice
não foi sequer capaz de pensar em frear. Simplesmente despencou
em um poço de grande profundidade.
Alice caía, caía, caía... Será que aquela queda não acabaria nunca?
— Então, de repente: plunct! Aterrissou em um amontoado de
gravetos e folhas secas. A queda havia chegado ao fim.
Sem nenhum arranhão, ela se levantou em um instante. Olhou
para cima, mas sobre sua cabeça tudo estava escuro. Atrás de Alice
havia outra passagem longa, onde ainda se podia ver o Coelho
Branco descendo bem depressa. Não dava para perder nem um
segundo: lá foi a menina, veloz como o vento ainda a tempo de vê-lo fazer a curva. Alice estava perto dele ao fazer, mas o Coelho Branco já
não podia mais ser visto. Sumira na escuridão de um salão comprido, baixo e mal iluminado.
De repente, de um ponto qualquer na escuridão do fundo do salão, viu surgir o Coelho que avançou lentamente para uma faixa um pouco mais iluminada onde ela podia distingui-lo melhor. Ele estancou a encará-la e Alice, por sua vez, o olhou com curiosidade.
De trás do Coelho Branco, também daquela treva, surgiram à luz algumas figuras no mínimo excêntricas: um tipo alto com uma cartola extravagante, um homenzinho baixo tão gordo que se assemelhava a um ovo, um par de gêmeos rechonchudos vestidos de forma rigorosamente igual, e um gato que a encarava com um sorriso sinistro na cara.
O Coelho, girando a corrente do relógio de bolso, e agora parecendo ignorar a presença da menina, depois de um angustiante período de silêncio, finalmente abriu a boca e falou: - Eu não disse que ela ia me seguir? Tá aí ela, gente. Podem descer a porrada.
Cly Reis
livremente inspirado em "Alice no País das Maravilhas",
de Lewis Carrol